Frederico Fischer

Entrevista com:  Frederico Fischer
https://rodolfolucena.folha.blog.uol.com.br/arch2009-01-25_2009-01-31.html

FOLHA - O senhor treina sozinho, aqui na praia?
FREDERICO FISCHER 
- Sozinho, aqui na praia. Faço meus treinos. Máximo três vezes por semana, a média seria duas vezes por semana. Primeiramente, faço os alongamentos aqui em casa, tudo direitinho. Principalmente das pernas. Faço depois um trote pela praia, deve dar uns 3.800 metros, ida e volta. Aí continuo nos alongamentos e marco, com meu ‘passômetro‘, 50 metros, às vezes 75, e começo a dar os piques de velocidade. Começo devagar, depois mais forte, mais forte... e sempre tirando o tempo para não perder o pique da velocidade. Eu sempre fui velocista. Em 1945, fui o campeão paulista _naquele tempo, poderia ser considerado brasileiro, porque só tinha São Paulo no atletismo, fui o campeão paulista nos 400 m com barreiras. Em 1948, fui campeão paulista do decatlon. Então eu sempre fiz de tudo: corridas, arremessos e saltos. Arremessos ainda treino uma vez ou outra. Eu tenho meus implementos aqui: peso, disco, dardo, martelo. Uma vez ou outra faço um treinamento, mas nunca me empenho assim em querer fazer um resultado.https://abrambrasil-com.webnode.com/_files/200000419-352cb36296/Fischer.jpgO que eu quero é me sentir bem, estar quites com o organismo, com o físico, para evitar lesões. E tenho tido sorte.

                                                                         

FOLHA - Está agora se preparando para o Mundial?
FISCHER - 
Talvez. Há um senão. Primeiramente, a esposa. Ele já está me limitando, já não quer mais que eu faça tantas provas. Como eu fui decatleta, eu gosto de fazer muitas provas. Em julho ou agosto, estive em Manaus no campeonato brasileiro. Fiz oito provas. Como na minha faixa etária já não tenho quase mais adversários, talvez só uns dois ou três, e sempre bem mais fracos do que eu, eu ganho todas as provas. Eu fiz oito provas. Mas ela não gostou... Agora, para esse Mundial, tem o senão seguinte: eu já fiz a operação da catarata de uma vista; agora está na hora de fazer a da segunda. A operação é feita em São Paulo, é um aparelhamento ultramoderno, que é rapidíssimo. Mas o pós-operatório obriga a gente a não fazer esforço nenhum por quase dois meses. Se isso acontecer, eu não sei como eu vou estar depois dessa parada. Em geral, eu não demoro muito para entrar em forma, mas é sempre problemático. E a inscrição para o Mundial é feita quatro, cinco meses antes...

FOLHA - É preciso alguma qualificação?
FISCHER -
 Não. O espírito do veteranismo é o seguinte: confraternização e amizade. Não há índice para participar. Vamos supor, no arremesso de peso: quem quiser participar, pode se inscrever, desde que pague a taxa e esteja dentro da faixa etária... Eu estou com 92, até os 94 estou na faixa dos 90. Não há índice. Participa quem quiser e puder pagar.

FOLHA - Tem de ser sócio da Associação de Veteranos?
FISCHER -
 Sim. Eu participei do terceiro Mundial de veteranos, em 1979. Quando começaram os Mundiais, eu e o presidente da Associação Atlética dos Veteranos de São Paulo. Daí era livre, era pouca gente, entravam todos. Mas, quando começou a aumentar o número de participantes, resolvemos impor certos regulamentos. Para o Mundial, só aceitam inscrição feita através de entidade nacional. Eu participei também nos mundiais de Porto Rico, de San Sebástian, na Espanha, e em Riccione, na Itália, em 2007 [NR: estabeleceu novos recordes mundiais nos 100 e nos 200m].

FOLHA - O senhor falou que o veteranismo é confraternização, mas, pelo seu relato, também é muito competitivo...
FISCHER -
 Aí, sim. Na hora de entrar na raia, aí não tem conversa. Aí é brigar mesmo. É da pessoa. O sujeito gosta de vencer. Ninguém gosta de perder. A gente tem aquela gana. Isso é natural... Mas depois todo mundo é amigo...

FOLHA - O senhor treina também esse aspecto competitivo, se prepara para a tensão da competição?
FISCHER -
 Precisa treinar muito, principalmente velocidade. Nas provas de velocidade, a saída é importantíssima. Quem bobeou na saída, quando os adversário são fortes, não pega mais. Na praia, eu treino isso: simulo a partida. Falo mentalmente os comandos: ‘Às suas marcas‘; eu vou lá na marca. Penso: Pronto, e o tiro: vai!. Aí eu saio, porque tem que automatizar esse mecanismo do corpo, porque senão a pessoa fica muito lerda... Nos treinos, tem de mentalizar como se fosse a prova, para habituar o corpo. Antes da prova, a gente tem de excluir tudo e só pensar na prova.

FOLHA - Como é o resto do seu dia, o resto da semana?
FISCHER - 
Eu faço muita coisa aqui em casa. Às vezes meto a máquina aqui, corto grama... Tenho minha oficina, faço uma coisa ou outra. Às vezes, se precisa pegar numa vassoura, pego numa vassoura... Vou a pé ao centro fazer compras, carrego sacolas. Procuro andar sempre, fazer exercícios. Não ginástica, mas mexer o corpo. Às nove e meia da noite, mais ou menos, já estou procurando o berço, antes das sete estou de pé... Aí já começo a me mexer, abrir a casa, cuidar dos cachorros, cuidar do passarinho.

FOLHA - E a alimentação, o senhor tem um cuidado especial?
FISCHER -
 A alimentação é um fator importante, mas quem cuida disso é a minha esposa. Ela entende bem de alimentação, pois ela é formada em enfermagem. E eu não sou glutão. Eu como normal, comida variada. Muito legume, muita verdura, muita fruta. Não muito coisa gordurosa, pouco sal... Quando moço, gostava de doce. Mas vêm vindos os anos, a gente vai perdendo...  Gosto de tomar meu vinho, um pouco de cerveja, um aperitivo uma vez ou outra... A gente vai largando, com o tempo.‘

 

Frederico FischerFOLHA - O senhor nasceu onde e quando...
FISCHER -
 Meus pais eram alemães. Meus pais em 1909 já estavam no Brasil. Tanto que só [quem nasceu na Alemanha foi] o meu irmão mais velho, que faleceu há um ano e pouco, pouco antes de completar os cem anos. Depois dele, tem uma irmã, Emília, que mora lá na Vila Pompéia, onde eu me criei. Ela vai fazer 99 anos. Meu pai morreu cedo, com 45 anos, sofreu um acidente, mas era muito forte. A minha mãe viveu até os 92 anos. Eu nasci em Ribeirão Preto, em 1917, seis de janeiro. Meu pai estava bem estabelecido lá em Ribeirão Preto, tinha um frigorífico. Ele era especialista em carnes, linguiças, salames, essas coisas. Tanto que o conde Matarazzo, anos mais tarde, levou ele para Jaguariaíva (PR) para tomar conta do frigorífico. Ele era bom nesse ramo. Mas, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, ele perdeu tudo. Em 1918, ele era alemão, ele não podia sair da cidade. O que ele tinha de pagar, ele pagou, o que tinha para receber, ninguém pagou. Ele perdeu tudo. Aí saímos de Ribeirão Preto...
Fomos para Jaguariaíva, foi lá que meu pai teve um acidente, caiu no rio, morreu afogado, uma coisa horrível. E nós voltamos para São Paulo. Minha mãe começou a trabalhar, foi se empregar na fábrica, na Água Branca, na Matarazzo... Eu ficava em casa, cuidava dos meus irmãos. Nós éramos todo pequenos. Naquela época, a Vila Pompéia era tudo campo, uma casa aqui, outra lá adiante, só barba de bode... Eu jogava futebol, empinava papagaio, ia nadar no rio Cabuçu, que ficava entre a Freguesia do Ó e bairro do Limão.
Quando fiz 15 anos, arranjei um emprego, comecei a trabalhar lá no Brás, numa fundição de ferro-gusa. Ô, fiquei feliz da vida. Meu primeiro ordenado, 500 réis por hora, eu era o homem mais feliz do mundo. Trabalhei um ano lá, depois arranjei um emprego mais perto, na Vila Pompéia... Era uma oficina mecânica, eu trabalhava de ajudante de mecânico, torno, fresa, como operário... Aí eu disse: ‘Agora estou ganhando um dinheirinho, vou começar a estudar‘. Peguei a escola de comércio, me formei em contabilidade e depois fui contador o resto da vida, sempre trabalhei em contabilidade.

FOLHA - E o senhor fazia esporte?
FISCHER -
 Na Vila Pompéia, eu brincava, jogava futebol. Cheguei a jogar futebol muito bem. Eu era goleiro, fechava o gol... Andei muito de bicicleta. Mais tarde, meu irmão construiu um barquinho, um barco a vela, e eu comecei a frequentar a represa de Santo Amaro. Aí eu já tinha meus 14, 15 anos. A primeira medalha que eu ganhei na minha vida foi velejando. Em 1933. Eu era proeiro do meu irmão. Mais tarde ele se casou, a esposa passou a ser a proeira dele. Eu desisti de Santo Amaro e foi quando eu entrei no Clube de Regatas Tietê, em 1936 entrei como sócio lá. E fui sócio até agora, parece que o clube fechou, não sei... Lá eu ia remar catraia, nadar nas psicina. Eu tinha um bom físico, era muito forte. Quando terminei o curso à noite, passei a treinar mais e comecei a entrar firme no atletismo.
Eu ia indo bem, já no arremesso. Foi quando eu sofri um acidente de bicicleta. Eu andava na rua Alfonso Bovero, era tudo terra. Fui fazer um manobra, a bicicleta escorregou, eu capotei, dei um mortal, arrancou a clavícula do omoplata. Meu braço ficou lá embaixo. E com isso meu braço enfraqueceu enormemente. Depois que terminou o tratamento, demorou meses para recuperar a força.
Aí eu comecei a correr. Já que não podia arremessar, deixei um pouco os arremessos, comecei a corrida. Eu sempre gostei de fazer de tudo: brincar no salto em altura, brincar no salto em distância, brincar nos arremessos, fazer corrida, brincar na barreiras...
Eu tenho uma cicatriz aqui na mão. Eu fui fazer um pentatlo lá no Corinthians, no Parque São Jorge, no dia em que Japão atacou Pearl Harbour. Pois no salto em distância, a gente usava sapato com prego, eu me pisei e rasguei a minha mão. Eu ia ganhar aquele pentatlo. Fiquei em segundo lugar mesmo sem fazer os cem metros, por causa desse acidente. Nem sei como aconteceu. Fui lá na enfermaria, costuraram aquilo ali na marra, sem anestesia, sem nada.

 

FOLHA - Qual foi seu primeiro título importante?
FISCHER -
 Foi o 400 com barreira, em 1945, no Estadual. O tempo foi bom, fiz 57 segundos e uns quebradinhos... O recorde sul-americano era 56 e seis, 56 e oito, que era do Padilha, que ele fez na Olimpíada de Berlim, em que foi o sexto colocado. Então, de 56 para 57 não é muita diferença...

FOLHA - Nessa época, com 26, 27 anos, o senhor mantinha uma rotina de treinamento mais forte?
FISCHER - 
Não. O máximo que se podia treinar era três vezes por semana. Alguém que treinasse mais era chamado de louco. Não podia treinar tanto. Depois de veteranos, eu corria com um grupo de amigos nas ruas e também no clube, corria uns cinco, seis quilômetros, quanto a gente quizesse. Pois nos chamavam de loucos. Quem atingia os 40 anos tinha de parar, não fazer mais esporte, de jeito nenhum, porque era muito perigoso para o coração. O nosso treino de moço era no máximo três vezes por semana, muito dosado. Senão, era excesso, podia estourar...

Quando eu fui campeão estadual nos 400 m com barreiras, teve um campeonato brasileiro logo em seguida, em Porto Alegre. Eu era empregado em uma firma, trabalhava como contador em uma firma, e eu cheguei para o dono da firma, pedindo uns dias de licença para participar do campeonato, teria de me ausentar uns dias... Ele me olhou bem, assim, e disse: ‘Você escolhe, teu divertimento ou teu emprego‘, e virou as costas. O que eu escolhi? Meu emprego. E não fui para o Brasileiro. .

FOLHA - E a sua vida fora do esporte?
FISCHER -
 Continuei estudando, mas aconteceu um problema na minha vida... Fiquei conhecendo a dona Teresa... (risos)... Conheci a Teresa lá no clube, ela era atleta também. Ela fazia barreira, saltava altura. Eu ficava encafifado com aquela menina... Um dia, peguei coragem, fui falar com ela. E até hoje ela não me largou. Nós casamos em 1947.  Fui tocando a vida, tocando o barco, problemas em casa, filhos crescendo... Depois, com 40 anos, já não participava mais de competições oficiais. Só ia no clube para brincar. Lógico, a gente fazia umas corridinhas.

FOLHA - E como o senhor voltou a correr?
FISCHER -
 Eu trabalhava numa empresa, como diretor, na Porcelanas Mauá, eu já morava em Mauá naquele tempo. Foi numa época em que a gente passava crises financeiras bravas.. E a cabeça da gente vivia muito cheia de problemas. Uma vez eu estava em São Paulo, passando pelo clube, disse: vou dar uma corrida.... Fui, corri, suei bastante. Aí quando eu sentei no carro, senti um alívio tremendo na cabeça. Aqueles problemas que a gente quer resolver e não consegue, de repente fica tudo mais claro. Ô danado! E achei que tinha sido a corrida. Percebi que aquela corrida, aquela transpiração, o sangue circulando mais, parece que faz uma limpeza lá dentro. Então decidi voltar a correr.
Passei a frequentar o clube novamente. Primeiramente, eu ia aos domingos, e tinha lá dois veteranos que eu conhecia, que eram corredores de fundo, 3.000, 5.000 m. No começo, eu tentava acompanhá-los, perdia longe para eles. Mas, pouco tempo depois, eu comecei a superá-los.
No ano seguinte, resolvemos organizar um campeonato dos veteranos no Tietê. Eu deveria estar com 50, 55 anos. Comecei uma brincadeira interna. Mas logo juntamos outros clubes, o Espéria, o Penha.  Nessa altura, já tinham me colocado como diretor esportivo da associação de veteranos [NR - Fischer entrou para a diretoria da Associação Atlética Veteranos de São Paulo em 1973, assumindo a presidência em 1975; ficou no cargo por quatro anos e outros quatro como vice].

FOLHA - Como o senhor chegou às competições internacionais?
FISCHER -
 Quando eu já tocava o veteranismo aqui em São paulo. Um companheiro nosso, Adolfo Vargas, um chileno, uma vez voltou de férias de lá contando que o Figueroa, que era um atleta do decatlo chileno, queria montar uma associação de veteranos lá. Pediu nossa ajuda, e eu montei um calhamaço de papel para ele, com toda a nossa organização. Foi quando ele organizou o primeiro campeonato sul-americano. Fomos para lá. O Brasil ganhou uns 95% das provas. O segundo sul-americano foi em São Paulo. Eu trabalhei para burro, era diretor de esportes da Associação de Veteranos. Participei de todos os campeonatos sul-americanos, menos em um, que foi na Colômbia. Participei de todos os Brasileiros, Paulistas... Quando tem competição importante em São Paulo, eu pego o carro e vou.

FOLHA - E sua participação nos Mundiais?
FISCHER -
 O meu primeiro Mundial foi em Hannover, na Alemanha, em 1979. Era o terceiro Mundial que estava sendo organizado. Fomos em dois brasileiros, eu e um japonês naturalizado. Fui à queima-roupa, meu filho que me incentivou. Não há patrocínio de jeito nenhum, não há auxílio de ninguém, de nada. Eu sempre paguei tudo. Inclusive a própria camisa que se usa e está escrito Brasil, você tem de comprar. Não existe auxílio nenhum. Fui o quinto colocado no arremesso de peso. Poderia ter sido o terceiro colocado nos 400 m, mas já saí com uma lesão na barriga da perna, forcei demais aqui nos treinos. Cheguei lá, vi que não dava, nem participei. Mas voltei satisfeito.

 

FOLHA - Qual foi a pior prova em que o senhor participou?
FISCHER -
 Eu sempre tenho me saído mais ou menos bem. Modéstia à parte, me acostumei a ganhar. Fiquei viciado nisso. Mas, às vezes, eu sou azarado nas provas, principalmente nos 100 m. Teve um ano, o recorde mundial do M80 era 16s16; eu fiz 16s17 aqui em São Paulo. Teve o Brasileiro em Porto Alegre, eu me preparei para a prova, estava tinindo... Na hora da prova, não deram a largada, porque estava faltando um atleta. Até darem a largada, foi quase hora. Nesse interim, mudou o tempo: vento contra e chuva. Não fiz o tempo que eu queria. Agora, no Sul-Americano, em Rosario, em novembro de 2008... O meu recorde, para os 90 anos, é 17s53, que fiz em Riccione (2007). Eu fiz 17s73!! A prova era às 15h. Eu me apresentei, mas a prova foi suspensa. Teve um desfile, celebração, discurso... Eu corri os 100m já desaquecido, louco da vida, com uma raiva... Foi uma ducha de água fria terrível, porque eu teria melhorado meu tempo...

FOLHA - Qual foi a melhor lembrança?
FISCHER - 
O que eu fiquei contente mesmo foi aqueles 400 m com barreiras. Foi uma prova excepcional. Eu disse: ‘Sabe de um coisa? Eu vou embora, seja o que Deus quiser‘. Deu a saída, eu fui embora. Terminando a curva dos 200, eu não estou ouvindo ninguém, aqueles passos. Pensei: ‘O que está acontecendo, será que estou na frente?‘.  Quando a gente entra na reta, eu vi que estava sozinho da prova. Eu me disse: ‘Não vou perder mais a prova. Eu vou correr para derrubar as últimas duas barreiras...‘ E, com essa gana de passar, fiz as melhores passagens; em vez de derrubar, passei melhor ainda. Porque eu entrei na barreira. A técnica primordial é atacar a barreira, não ter medo da barreira. Fiz essas duas passagens maravilhosas, ganhei com boa margem.

FOLHA - Como veterano, qual o segredo para continuar a competir em alto nível?
FISCHER 
- Não sei. Se existe algum segredo, tem que cobrar aqui de minha nutricionista... [NR - ‘Mangia benne!!‘, diz Teresa].

FOLHA - E qual o segredo para ter um casamento que dure tanto assim?
FALA TERESA FISCHER - 
Brigar bastante...
FALA FISCHER - É ter medo da mulher!! Ela é brava! Ela é brava!
TERESA CONTINUA: Tem de se colocar, tem de discutir, tem de resolver, não ficar guardando mágoa. Não é briga desrespeitosa...
Não é para parar o esporte, pode continuar treinando, mas não competir tanto......
FISCHER - Aí que tá, Teresa: o que me motiva a treinar são os campeonatos. Porque, se não fosse isso, você vai desistindo, você vai relaxando....
TERESA - Em Manaus, ele participou de oito provas. Ganhou as oito, mas também se desgasta, se judia. Ele tem de continuar, mas de uma forma... É como um carro velho. Está bonito e tudo. Mas você cuida bem. Se não cuidar bem, ele se desmancha, porque é velho, ele já está velho, já está cansado.

FOLHA - Qual a importância do esporte?
FISCHER -
 Principalmente a saúde. Além de fazer muito bem para a saúde, dá umas regras para como viver. Como o sujeito tem de viver: evitar extravagâncias, evitar besteiras. Extravagâncias todas, seja na bebida, seja na comida, seja no comportamento, passar noitadas fora. Esse negócio faz bem. Ativa a circulação. Em cano que o líquido é jorrado com violência nunca forma crosta pro dentro; é assim em mecânica. Cano em que a água passa devagarinho, com o tempo vai fechando, enferrujando. Mas se ela passa com força não cria crosta. Na nossa carcaça, acho que é a mesma coisa: o sangue passa lá nos miolos, faz uma limpeza... Eu sei que faz bem, faz bem mesmo.

FOLHA - O senhor nota diferenças em seu desempenho?
FISCHER -
 Fisicamente, eu não nota nada, não noto diferença nenhuma. A única coisa é que, na corrida, o cronômetro diz: ‘Olha , você está cada vez mais lento‘. Nos arremessos, a mesma coisa, são cada vez mais próximos. Mas eu tenho a impressão de que está a mesma coisa. A minha mente é a mesma coisa. Eu penso que estou igual, mas não estou. Nos arremessos, em que é preciso muita explosão, precisa ser muito rápido. E a gente vai ficando velho, vai ficando lento, em vez de uma catapulta, você arremessa em câmera lenta.


FOLHA - E o senhor tem contato com grupos de idosos aqui em Peruíbe?
FISCHER -
 Teve um  grupo que começou aqui, mas ele jogam bocha. Eu não jogo bocha. Outra: eles ficam o dia inteiro sentado numa mesa jogando baralho. Eu detesto baralho. Eles não gostam de correr, fazer movimento, essas coisas... Não participo do grupo.

Não é só bocha e truco que o idoso deve fazer. Tem é que se movimentar mesmo. E outra: sentir cansaço. Não é: começou a cansar e parar. Tem de forçar um pouco mais. Mas primeiro fazer exame médico, precisa ver como está máquina, o coração, outras coisas mais. O idoso, quando quer recomeçar a fazer uma brincadeira, primeiro precisa fazer os exames. E começar devagarinho, porque a cabeça é uma, o corpo é outro.

 


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